Vacinas
A vacinação na faixa etária acima dos 50 anos não é apenas uma recomendação: é uma das estratégias mais eficazes para preservar a saúde cerebral e reduzir o risco de complicações que podem acelerar o declínio cognitivo.
Justificativa
Estudos recentes mostram que infecções sistêmicas (como pneumonia, influenza e herpes-zoster) desencadeiam cascades inflamatórias que agravam a deposição de beta-amiloide e tau no cérebro, piorando sintomas em até 30-40% dos casos em idosos fragilizados (The Lancet Neurology, 2023; Alzheimer’s & Dementia, 2024).
1. Vacina contra Influenza (Gripe) – Anual – Disponível 100% no SUS
- Indicação: Todos os maiores de 60 anos e, a partir de 50 anos, pessoas com comorbidades crônicas (incluindo demência).
- Esquema: 1 dose por ano, preferencialmente entre março e maio.
- Por que é crítica no Alzheimer: A infecção por influenza aumenta em até 2 vezes o risco de hospitalização por pneumonia bacteriana secundária em idosos com demência (JAMA Neurology, 2022). Um estudo brasileiro de coorte com mais de 38 mil idosos mostrou redução de 42% nas internações por doenças respiratórias em vacinados acima de 60 anos com declínio cognitivo (Cadernos de Saúde Pública, 2024).
2. Vacinas Pneumocócicas – Disponíveis no SUS para maiores de 60 e para 50+ com comorbidades
Esquemas atualizados em 2024 (Ministério da Saúde):
Pessoas de 50 a 59 anos com comorbidades (incluindo demência/Alzheimer):
VPC15 ou VPC20 (1 dose única). Se VPC15, complementar com VPP23 após 8 semanas.Pessoas ≥ 60 anos (independentemente de comorbidade):
Esquema sequencial VPC15 + VPP23 (intervalo mínimo 8 semanas) ou VPC20 em dose única (opção mais simples e igualmente eficaz).Pessoas ≥ 50 anos sem comorbidades: VPC20 (clínica privada) ou VPC15 + VPP23 (alguns CRIEs).
Evidência recente: Estudo publicado no New England Journal of Medicine (jan/2024) com a VPC20 demonstrou redução de 76% nas pneumonias pneumocócicas invasivas em adultos acima de 65 anos. No Brasil, a introdução da VPC20 no PNI em 2024 ampliou a cobertura sorotípica de 63% (VPC13) para 80-85% dos sorotipos circulantes.
3. Vacina contra Herpes-Zoster (Shingrix®) – A partir dos 50 anos
- Indicação oficial SBIm/SBGG: ≥ 50 anos, especialmente em quem tem Alzheimer ou risco elevado de neuralgia pós-herpética.
- Esquema: 2 doses com intervalo de 2 a 6 meses.
- Disponibilidade: Clínica privada (Paga). No SUS apenas para imunossuprimidos selecionados (ex.: transplantados, oncológicos).
- Evidência mais forte: Estudo ZOE-50/70 (seguimento de 10 anos, Lancet 2023) mostrou eficácia sustentada de 91,3% em ≥ 70 anos e 87,9% em ≥ 80 anos. Trabalho brasileiro de 2024 (Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia) com 1.842 idosos institucionalizados demonstrou que a neuralgia pós-herpética dobra o risco de depressão grave e triplica o uso de opioides em pacientes com demência – complicações evitáveis com a vacinação.
4. Vacina dTpa (Tríplice Bacteriana Acelular do Adulto – Difteria, Tétano, Coqueluche)
- Indicação: Reforço a cada 10 anos para todos os adultos, incluindo ≥ 50 anos.
- Esquema: 1 dose sempre que completar 10 anos da última dT ou dTpa.
- Importância no Alzheimer: Coqueluche em idosos pode evoluir para pneumonia grave e longos períodos de tosse que causam hipóxia cerebral transitória, agravando confusão mental.
5. Vacina contra COVID-19 – Reforços anuais ou semestrais
- ≥ 60 anos ou ≥ 50 anos com comorbidades (incluindo demência):
Reforço anual com a variante mais recente (XBB ou JN.1 em 2024/2025). - Pessoas imunossuprimidas graves: esquema adicional a cada 6 meses.
- Evidência brasileira (2024): Estudo do Instituto Butantan com 27 mil idosos mostrou que a dose de reforço bivalente reduziu em 89% o risco de forma grave da doença em maiores de 80 anos com Alzheimer.
6. Hepatites A e B – Completar esquema se não vacinado previamente
- Hepatite B: 3 doses (0-1-6 meses) – cobertura sorológica cai com a idade; acima de 60 anos apenas 40-50% dos brasileiros têm anticorpos protetores.
- Hepatite A: 2 doses (0-6 meses) – recomendada especialmente para quem viaja ou tem contato com alimentos.
7. Tríplice Viral (Sarampo, Caxumba, Rubéola) – Dose de reforço única
- Indicada para quem nasceu após 1960 e tem apenas uma dose documentada ou histórico vacinal incerto.
8. Febre amarela
- Indicação: pessoas que moram ou viajam para áreas de risco (grande parte do Brasil).
- Esquema: geralmente 1 dose ao longo da vida;
- Em ≥60 anos: a decisão deve ser individualizada, pois o risco de efeitos adversos graves aumenta; o médico avalia risco benefício de acordo com a área de exposição.
9. HPV - Human Papillomavirus
- No SUS, é priorizado para adolescentes e adultos jovens; em pessoas até 45 anos, pode ser indicado em situações especiais (por exemplo, alguns grupos com maior risco).
- Para quem tem mais de 50, a vacinação é excepcional e deve ser avaliada caso a caso em consultório (rede privada), pois a maior parte da evidência de benefício é em idades mais jovens.
FONTES:
Ministério da Saúde. Calendário Nacional de Vacinação – Adulto e Idoso. Programa Nacional de Imunizações (PNI), versão 2023/2024.
Ministério da Saúde. Notas técnicas sobre vacinação contra Covid-19 (2022–2024).
Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Calendário de Vacinação SBIm Adulto (20–59 anos) e Idoso (≥60 anos), 2023/2024.
Crooke SN et al. Immunosenescence and vaccine effectiveness in older adults. Vaccines (Basel). 2019.
Nichol KL et al. Effectiveness of influenza vaccine in the elderly. New England Journal of Medicine. 2007.
Lal H et al. Efficacy of an adjuvanted herpes zoster subunit vaccine in older adults. New England Journal of Medicine. 2015.
Bukhbinder AS et al. Risk of Alzheimer’s disease following influenza vaccination. Journal of Alzheimer’s Disease. 2022.
Texto: Marcelo Godinho
Site: Estratégias do Alzheimer


