Saúde e nutrição cerebral
A conexão entre saúde e nutrição cerebral vem ganhando destaque nos últimos anos, e essa conexão é cada vez mais apoiada por um crescente número de evidências que demonstram uma correlação entre o que você come e sua cognição. Um estudo publicado na Neurology em 2018 descobriu que uma dieta saudável aumenta o volume total do cérebro, compensando potencialmente o encolhimento cerebral relacionado à idade.
O estudo estabeleceu que pessoas que comem uma dieta rica em vegetais, frutas, castanhas, nozes e peixes podem ter cérebros maiores. Os pesquisadores descobriram que, após um ajuste para idade, sexo, educação, tabagismo e atividade física, aqueles que consumiram uma dieta melhor tiveram uma média de dois mililitros a mais do volume total do cérebro do que aqueles que não consumiram. Como comparação, ter um volume cerebral 3,6 mililitros menor é equivalente a um ano de envelhecimento.
Evidências sugerem que a nutrição é importante para otimizar a cognição e reduzir o risco de doença de Alzheimer (DA), a forma mais comum de demência e o tipo clinicamente mais significativo de declínio cognitivo. Em um estudo de revisão de 2019, ao examinar o papel da nutrição na cognição e na DA , com ênfase específica na dieta mediterrânea e seus principais componentes nutricionais, como xantofila, carotenóides e ácidos graxos ômega-3, encontraram fortes evidências de que a adesão a esse padrão alimentar pode desempenhar um papel positivo na saúde cognitiva de indivíduos saudáveis e reduzir seu risco de desenvolvimento de doença de Alzheimer (DA). Em um recente estudo piloto em que indivíduos com DA foram suplementados com uma combinação de carotenóides e ácidos graxos ômega-3, apresentaram resultados positivos em termos de resposta bioquímica e otimizaram a capacidade de realizar atividades cotidianas diárias.
Em 2018, o primeiro estudo tipo randomizado controlado também constatou que uma dieta mediterrânea com consumo de alimentos integrais e in natura, poderia retardar o declínio cognitivo relacionado à idade, ajudando a prevenir o comprometimento cognitivo e a demência. Uma maior adesão à dieta mediterrânea e outras dietas saudáveis emergentes têm sido relacionadas à diminuição dos riscos de várias doenças relacionadas à idade, incluindo declínio cognitivo, comprometimento cognitivo e demência. Mais recentemente, um estudo longitudinal de 949 mulheres (Boston Puerto Rican Health Study), sugere que uma baixa piridoxal-5′-fosfato plasmática (forma mais ativa de vitamina B6) está associada a um maior risco de declínio cognitivo em dois anos, incluindo função executiva e memória.
Novas pesquisas mostram que, com a idade, com quem você come é tão importante quanto o que você come. Um estudo recente indica que uma vida nos estágios mais avançadas, porém socialmente integrada, dá melhor suporte para a saúde do cérebro, protegendo-o contra o declínio cognitivo e a demência. Mulheres entrevistadas, com estado nutricional comprometido e comendo suas refeições sozinhas exibiram menores escores de cognição em comparação com aquelas com um estado nutricional normal e que faziam suas refeições na companhia de outras pessoas. Os autores do estudo sugerem que os programas nutricionais para idosos devem se concentrar no que comem e com quem comem para evitar o isolamento social.
O entendimento clínico de como a nutrição e outros fatores do estilo de vida afetam a cognição, a saúde geral do cérebro e a estrutura cerebral continua a evoluir, e alguns estudos demonstraram que as intervenções nutricionais podem prevenir ou mesmo reverter o declínio cognitivo.
REFERÊNCIAS
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